Na sua primeira declaração após o resultado das urnas apontarem sua derrota nas urnas, o candidato à Presidência pelo PDT, Ciro Gomes, afirmou estar “profundamente preocupado com o país”, mas pediu algumas horas antes de se posicionar oficialmente sobre a disputa no segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Parte do partido tende a aderir ao petista, mas Ciro resiste.
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Estou profundamente preocupado com o que está acontecendo com o Brasil. Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora — disse Ciro, que completou: — Me deem mais algumas horas para conversar com meus amigos, com meu partido, para que a gente possa achar o melhor caminho.
Com 96,42% das urnas apuradas, Ciro tem até agora 3,06% dos votos válidos. É o pior resultado do pedetista desde a primeira vez que ele concorreu à Presidência, em 1998. Esta é também a primeira vez que o líder do clã Ferreira Gomes perde em seu próprio estado. No Ceará, ele tem 6,76% dos votos, com 93% das urnas apuradas.
Ciro passou o domingo no Ceará, seu berço eleitoral e onde está desde a última sexta-feira fazendo campanha. Mais cedo, ele foi acompanhado da mulher, Giselle Bezerra, e de seu candidato ao governo do estado, Roberto Cláudio (PDT), votar na sede da Secretaria de Saúde de Fortaleza, na praia de Iracema.
Ao longo de toda a campanha, Ciro apostou em uma estratégia belicosa contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ex-aliado e visto hoje com seu principal adversário. Para tentar furar a polarização entre o petista e o atual chefe do Planalto, Jair Bolsonaro (PL), o pedetista passou a comparar os dois e responsabilizá-los pela crise econômica e social brasileira.
A postura “anti-Lula” adotada por Ciro, principalmente após a contratação do marqueteiro João Santana, se baseava no cálculo político de que seria mais fácil atrair eleitores de Bolsonaro para tirá-lo do segundo turno do que do ex-presidente. A estratégia teve, no entanto, afugentou seus próprios eleitores, além de trazer desconforto entre os aliados do partido. Ciro termina esta eleição abandonado pelos correligionários e por seus próprios irmãos.
Mas cedo, ao votar, Ciro sinalizou que está pode ser a última vez que concorre à Presidência, mas deixou possibilidades abertas ao afirmar que “o futuro a Deus pertence”. Ele também evitou dizer quem apoiará no segundo turno entre Lula e Bolsonaro.
Na eleição passada, em sua primeira declaração após o resultado das urnas indicar que Ciro estava fora do segundo turno, disputado aquele ano entre Bolsonaro e o ex-ministro Fernando Haddad (PT), o pedetista também preferiu não cravar quem apoiaria entre os dois presidenciáveis. Em resposta a jornalistas, disse apenas que estaria “contra o fascismo”.
— Uma coisa eu posso adiantar logo, como vocês já viram: minha história de vida é uma história de vida de defesa da democracia e contra o fascismo — disse à época.
Dias depois, no entanto, o PDT anunciou apoio crítico a Haddad e Ciro viajou para Paris — postura que foi bastante criticada à época. Neste ano, uma reunião da Executiva do PDT está prevista para acontecer ainda no início da semana para definir os rumos do partido.
Em 2018, o partido também fez uma reunião para discutir se apoiaria ou não o candidato do PT ou se optaria pela neutralidade. Segundo pedetistas presentes no encontro, a decisão de Ciro pelo apoio crítico a Haddad que pesou para a escolha que o PDT fez.